O que leva grande parte das pessoas a recusar o papel da vida adulta por medo das responsabilidades? Como o arquétipo do Puer Aeternus “eterno jovem” afeta a vida de pessoas que recusam os deveres da vida adulta? De que forma as organizações tratam isso internamente com os seus colaboradores? Quais os impactos desse tipo de comportamento?
O que você pode transformar a partir desse conhecimento?
Antes de prosseguir essa reflexão eu lembro que no último artigo publicado no blog falamos sobre turning point (ponto de virada) e abordei tópicos importantes da influência que os arquétipos do patriarca e do herói produzem nos homens. Também mencionei alguns exemplos práticos que ajudam o leitor a se autoavaliar, resumidamente, para perceber se está se cristalizando e de que forma essa escolha é feita no momento derradeiro da virada: amadurecido e comprometido com as responsabilidades; ou toma um caminho paralelo avesso aos deveres da vida madura?
Agora que você já sabe que esta é uma sequência de textos que se aprofunda na questão, lembro que a análise da vez continua trilhando o caminho da maturidade com foco no comportamento dos homens, afinal de contas, é o tema que tenho me debruçado desde que elaborei o programa “A Saga do Homem em Busca do Masculino Profundo”. Porém, este tema também envolve as mulheres, pois elas também são enredadas pelo Puer Aeterrnus.
Entender a respeito deste arquétipo é uma maneira de perceber comportamentos que são muito comuns e que por vezes são ignorados e aceitos como naturais. Frequentemente nos deparamos com indivíduos adultos que vivem nessa encruzilhada entre o desejo da liberdade, mas abdicando as responsabilidades que ela acarreta. Essa desistência de encarar a realidade é bem característica. Ela também é conhecida como Síndrome de Peter Pan. Uma alusão à fábula onde o personagem vive semelhante indecisão: manter-se para sempre criança ou crescer e lidar com as questões da vida adulta?
A postura de não amadurecer conduz o indivíduo a uma vida provisória. Em outras palavras, a pessoa acaba por fantasiar situações de ideal (sempre no futuro) e não vivencia o seu presente. No ambiente das organizações essa postura é observada, por exemplo, nos indivíduos muito procrastinadores ou naqueles que julgam não dar conta do recado. De certo modo essas pessoas tendem a fantasiar o futuro constantemente. Almejam o salário, os benefícios e o reconhecimento que o cargo proporciona. Em contrapartida não se sentem realizados, se vitimizam quase sempre e logo pensam que só serão felizes quando mudarem de cargo, quando ingressarem em uma outra empresa ou quando se aposentarem e finalmente fizerem aquilo que gostam de fazer. Mas, o pano de fundo deste enredo é uma negativa para não assumirem posições mais desafiadoras, metas mais ambiciosas e inúmeras responsabilidades próprias deste ambiente. Você conhece alguém que se encaixa nesse comportamento conhecido como “kidults” ou mesmo se reconhece nele?
Em um contexto global é possível afirmar que a pandemia ainda potencializou essa questão a partir do momento em que a vida entrou no modo espera e grande parte das pessoas passou a fantasiar o futuro. A partir do ponto em que houve a pausa do mundo real e entrou o período da espera do que aconteceria. Para este grupo de pessoas houve um esquecimento do presente, com isso veio a expectativa irreal do que fazer depois que tudo isso passar. Essa conduta reflete uma perspectiva ilusória para justificar que essa não é a vida verdadeira. A vida verdadeira será a que está por vir. Atitude corriqueira deste arquétipo.
De que forma você enfrenta as responsabilidades da vida presente?
Sonhar com o futuro não é incorreto, ao contrário disso, é motivador e não há nada mais natural do que cultivar esse pensamento. Por outro lado, a fala constante projetada somente para o futuro e negando o presente pode ser o maior indício de que algo está em desarmonia. Este cenário fortalece a ideia de uma vida provisória e atrapalha o processo do indivíduo se dar conta de que o que ele precisa fazer é agora. Sobretudo atrapalha o processo dele compreender que precisa dar conta da vida. Esse tipo de sabotagem, é mais sutil para na juventude mas se torna cada vez mais evidente a medida em que a idade avança.
Como superar o eterno jovem e aprender a lidar com a maturidade?
Ao passo em que você adquire maturidade você se dá conta de que você é capaz de dar conta da vida. Por mais simples que seja o conceito dessa frase, essa é a medida mais eficaz de avaliar que você tem discernimento, autorresponsabilidade e lida com os assuntos da vida adulta. O oposto disso é a ideia do arquétipo Puer Aeterrnus. Este não sabe lidar com as incumbências, com as burocracias, nunca se sente preparado e vive confortável no seu pequeno mundo. Entretanto, ele deseja acessar tudo o que a vida pode oferecer, desde que não inclua sair desse lugar onde não existe qualquer responsabilidade.
Lidar com as obrigações são problemas tão distantes da realidade de muitos adultos que novos nichos de mercado foram criados nas décadas mais recentes para ajudar as pessoas que vivenciam esse arquétipo. Essas empresas não apenas lucram com o serviço oferecido, mas ainda colaboram para potencializar esse comportamento. Alguns exemplos são o aparecimento de escolinha para cães, serviços de dog walker, aplicativos de locação de carro por mensalidade, entre outros. Companhias faturam alto com quem quer ter o proveito sem ter o dever. Cabe dizer aqui que não se trata de um julgamento pessoal. Saliento que estes exemplos apenas confirmam que o mundo mudou. O adulto de hoje não é mais como o adulto das gerações passadas e a sociedade replica essa ideia de que o mundo cuidará de algumas coisas caso o indivíduo não de conta. Será que isso se aplica a tudo?
No mercado de trabalho observamos a reprodução do comportamento infantilizado em diversas situações cotidianas. Uma delas é quando notamos executivos que se recusam a aceitar algumas tarefas que fazem parte da cultura inerente das organizações. Quando eu digo se recusam a aceitar, significa que essa posição mais infantilizada se evidencia em situações em que há pouca negociação e envolve maior responsabilidade atribuída; ou quando há aborrecimento pelo mesmo motivo. Daí por diante o aspecto do arquétipo se manifesta claramente no posicionamento adotado.
Nos casos das empresas onde a gestão é familiar, onde normalmente o fundador é o patriarca ou a matriarca, nota-se regularmente a presença do arquétipo Puer Aeternus nos herdeiros. Habitualmente são superprotegidos e infantilizados que não assumem as responsabilidades que se espera deles ou demoram muito para assumir os seus papeis. Por vezes são incentivados a manter esse estilo de vida, pelos próprios fundadores. É preciso lembrar o que Freud disse a respeito disso: “você só nasce como homem quando o morre seu pai”. Com isso ele quer dizer que é preciso matar o pai internamente e aos poucos assumir essa responsabilidade ao mesmo tempo em que se coloca como individuo com todas as suas atribuições capitais.
Conhecer como funciona a dinâmica desse arquétipo é indispensável e pode ajudá-lo como coach profissional a fazer perguntas que auxiliem o seu cliente a refletir sobre o assunto na busca da maturidade. Do mesmo modo, qualquer indivíduo que reflita intimamente pode se beneficiar desses conhecimentos práticos e se autoavaliar para perceber de verdade o quanto ainda vive esse comportamento.
Como você tem encarado a realidade da sua vida presente? Você tem dificuldade de aceitar responsabilidades na sua vida pessoal e profissional?
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Jorge Dornelles de Oliveira
Outubro de 2021
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